As luzes se apagam no imenso Teatro Guaira. Segundo balcão na arquitetura de moldes italianos. O cenário lembra um filme de ufologia com suas iluminações de código morse. Talvez Spielberg. A expectativa é grande, o show está atrasado 20 minutos e a casa está cheia, compacta. Todos aguardam a cantora Mônica Salmaso e o grupo instrumental Pau Brasil. O repertório é dedicado a Chico Buarque. Conheço algumas músicas. Estou lendo o programa. Deve ter sido caro esse folder. Muitos na platéia estão ensandecidos. A cantora possui discípulos bem agitados e estridentes. Algumas moças, desconfio, devem ser ex-paquitas. O grupo entra. Aplausos protocolares. Alguém me diz que se trata de uma composição musical histórica. Legal. A cantora, trajando um vestido discreto e elegante, surge de uma das laterais. Estou um pouco longe pra observar com mais crivo seus traços. Os aplausos se intensificam. A partida já se inicia vencida. Um casal muito atrasado atravessa o caminho e, mesmo no breu completo, é possível sentir a vibração dos impropérios. As dimensões do Teatro Guaira deixam os músicos semelhantes às peças de um gigantesco jogo de xadrez e a sintonia entre eles é evidente até para quem não entende nada de música, como eu. O nervosismo inicial da intérprete é muito bem resolvido com algumas tiradas espirituosas. A música, reconheço, é mera desculpa e escapismo pessoal. Não entendo nada de música, mas poucas coisas me fazem derramar tantas letras. (e de forma tão natural). Após o pior dos shows, sou capaz de produzir um livro inteiro de culinária pra vender no Calçadão da XV e não são raras às vezes em que penso que tudo mais possa ir para o inferno enquanto houver uma melodia entoada na entrada do caldeirão. Logo me arrependo desses pensamentos de aspectos reduzidos. A constatação existencial do vazio aliada ao preenchimento imediato de som deixa a alusão final de que algo falta, como se precisássemos de um elemento de ligação entre o universo musical e o complexo mundo interior, palco das sombras e dos amores reprimidos. Sempre há uma mulher. A cantora segue à risca o riquíssimo repertório e a efusão de fanatismo faz com que o público aplauda diversas vezes fora de hora. As desculpas são válidas. A apresentação é digna do conceito de espetáculo e chega a ser ultrajante acreditar que tamanho virtuosismo, competência e organização custem 10 reais - o preço de uma dose nas casas de tolerância ou de um vinil mais ou menos raro do Wando. Assim como todo grande filme possui momentos sagrados em que a tela pára pra se eternizar na memória – quem não lembra do Capitão Willard emergindo em busca do Coronel Kurtz em Apocalypse Now, por exemplo –, estava esperando ansiosamente os tais momentos sublimes, ainda não contente com o exercício de qualidade irretocável transbordando no palco. E não foi preciso muita espera: o espetáculo é todo programado pra última música, "Beatriz", do antológico álbum O Grande Circo Místico. Num piano e voz arrepiante, daqueles de fazer o coração se retorcer de melancolia, a simpática e cativante Mônica Salmaso coloca lágrimas nos olhos mais sensíveis e conquista as últimas bases resistentes. Impossível passar incólume. Quando o espetáculo acaba, muitos ainda estão desnorteados. As moças estão ainda mais histéricas. A saída é lenta e reflexiva. Estou entoando "Se eu pudesse entrar na sua vida..." entre olhos marejados e silêncios sepulcrais e é impossível não lembrar das paixões arrasadoras que nos arrematam e ecoam por todo o teatro italiano povoado de pensamentos tristes e ardentes.
Daniel Zanella
*Texto enviado para a Mônica Salmaso, após show em Curitiba.
Comentários sobre o show:
Noronha.'.
Pela primeira vez a cantora obteve um patrocínio que pudesse concretizar o desejo de uma turnê que abrangesse todas as regiões do país. No caso de Curitiba, o show marcará a sua estréia com um show próprio no Guairão, onde cantou uma única vez com a Orquestra Popular de Câmara. Mônica Salmaso e o Grupo Pau Brasil não foram os primeiros a dedicarem um disco inteiro às músicas de Chico Buarque de Hollanda; tampouco serão os últimos.
A beleza da sonoridade deste trabalho poderá ser apreciada “in loco” em Curitiba no próximo dia 13 de junho, no Guairão. Mônica e Pau Brasil fazem aqui o mesmo show que tem percorrido as principais capitais do país, com patrocínio exclusivo do Bradesco Prime.“Noites de gala, samba na rua” traz uma visão própria de Mônica e Grupo Pau Brasil mesmo de canções conhecidas e muito gravadas como “Quem te viu, quem te vê” e “Construção”, que soam contemporâneas. E ousa por não ser um disco “de cantora”, mas de um sexteto, onde os instrumentistas Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violão e cavaquinho), Teco Cardoso (saxofones e flautas), Rodolfo Stroeter (baixo) e Ricardo Moska (bateria e percussão) atuam também como solistas. Pelo repertório e pela proposta do trabalho, “Noites de gala, samba na rua” simboliza um novo patamar na carreira de Mônica Salmaso.
રαfα
eu fui...foi simplesmente PERFEITO!
Carlos
É chover no molhado. Mônica é simplesmente mais que demais.
Pela primeira vez a cantora obteve um patrocínio que pudesse concretizar o desejo de uma turnê que abrangesse todas as regiões do país. No caso de Curitiba, o show marcará a sua estréia com um show próprio no Guairão, onde cantou uma única vez com a Orquestra Popular de Câmara. Mônica Salmaso e o Grupo Pau Brasil não foram os primeiros a dedicarem um disco inteiro às músicas de Chico Buarque de Hollanda; tampouco serão os últimos.
A beleza da sonoridade deste trabalho poderá ser apreciada “in loco” em Curitiba no próximo dia 13 de junho, no Guairão. Mônica e Pau Brasil fazem aqui o mesmo show que tem percorrido as principais capitais do país, com patrocínio exclusivo do Bradesco Prime.“Noites de gala, samba na rua” traz uma visão própria de Mônica e Grupo Pau Brasil mesmo de canções conhecidas e muito gravadas como “Quem te viu, quem te vê” e “Construção”, que soam contemporâneas. E ousa por não ser um disco “de cantora”, mas de um sexteto, onde os instrumentistas Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violão e cavaquinho), Teco Cardoso (saxofones e flautas), Rodolfo Stroeter (baixo) e Ricardo Moska (bateria e percussão) atuam também como solistas. Pelo repertório e pela proposta do trabalho, “Noites de gala, samba na rua” simboliza um novo patamar na carreira de Mônica Salmaso.
રαfα
eu fui...foi simplesmente PERFEITO!
Carlos
É chover no molhado. Mônica é simplesmente mais que demais.
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